domingo, 13 de março de 2011

Frango com quiabo


Frango com quiabo é um prato típico da culinária mineira, principalmente se for feito com frango caipira ou na panela de pedra como esse aí servido na Estalagem das Minas Gerais, hotel do SESC em Ouro Preto. O lugar é bem aconchegante e escolhemos ficar hospedados em um chalé de madeira muito charmoso. No piso superior do mezanino ficava o colchão de casal diretamente no chão e um bercinho. No piso inferior um quarto com duas camas de solteiro, um banheiro, uma pequena copa e uma varanda com vista para as montanhas e as hortências. A propriedade do hotel é muito grande, arborizada, florida e também muito bem cuidada. De quebra a natureza ao redor é exuberante e traduz parte da beleza das nossas Minas Gerais. Como não tinha hóspedes nos chalés vizinhos na temporada que passamos lá, desfrutamos do contato com a natureza de forma bem intensa e nos sentimos como se estivéssemos no meio de um bosque. 

A comida caprichada é outro destaque do hotel, principalmente do cardápio a la carte (o buffet deixa um pouco a desejar) e esse frango com quiabo estava realmente delicioso. Nunca soube fazer um bom frango com quiabo mas descobri o segredo desse prato com uma amiga que também faz um divino: tanto o frango quanto o quiabo devem ser fritos separadamente primeiro e somente depois refogados juntos. Eu sempre tentei fazer refogando os dois sem fritar, mas vira um ensopado insosso e babento. Também sei que um dos truques para tirar a baba é jogar o quiabo e umas gotinhas de limão ou vinagre em uma panela bem quente e somente depois refogar com os temperos em outra panela. Minha mãe sempre fez assim e o dela apesar de ser só refogado fica gostoso. Mas não tem jeito, nada se compara a um frango com quiabo que é feito frito.  

Outra surpresa deliciosa foi no café da manhã desse hotel. Uma  garçonete veio até a nossa mesa perguntar se gostaríamos de comer um ovo frito (assim como é oferecido em muitos hotéis) ou uns bolinhos de chuva!!! Pena não ter tirado foto, eles fritam na hora uns bolinhos pequenos, bem menores do que eu costumava comer quando era criança, e trazem quentinho passado no açúcar com canela. Como eu prefiro puro mesmo, na segunda porção já pude desfrutar de mais esse genuino sabor da minha infância.

Quem gostava de fazer bolinho de chuva era minha avó paterna e passávamos a tarde comendo acompanhado de um café bem fresquinho, passado na hora. Aprendi a apreciar um bom café desde a infância, só que naquela época isso era sinônimo de uma bebida pouco incorpada (bem ralinha mesmo) e doce. Entretanto já apreciava o aroma do pó moído na hora, tarefa que aliás disputávamos para fazer, na maquininha da minha avó. Pena que  minha mãe nunca teve apreço pelas coisas como ela diz "velhas" e quando minha avó faleceu eu não tinha dimensão da saudade e da nostalgia que tudo isso ia deixar. Sendo assim, muitas dessas relíquias se perderam da forma mais banal. Consegui salvar a tempo o tacho de cobre, que deve ter bem mais de 50 anos. Sou fascinada por esse ícone da culinária mineira tradicional, que agora corre o risco de ser banido por questões sanitárias. De qualquer forma não vou desfazer do meu não, nem que seja para virar objeto de decoração!

"A alma mineira vive de saudade. Tenho saudade do que já foi, as velhas cozinhas de Minas, com seus fogões de lenha, cascas de laranja secas, penduradas, para acender o fogo, bule de café sobre a chapa, lenha crepitando no fogo, o cheiro bom da fumaça, rostos vermelhos. Minha alma tem saudades dessas cozinhas antigas..."
                                                                                                             A Cozinha - Rubens Alves

Mas voltando ao frango com quiabo, faço também minhas essas palavras de Rubens Alves, extraídas de um trecho da sua autobiografia (http://www.rubemalves.com.br/albumderetratos.htm):

"Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma. Ciência é fogo e panela: coisas indispensáveis na cozinha. Mas poesia é o frango com quiabo, deleite para quem gosta..."

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