domingo, 27 de março de 2011

Alma de Brasília_Daniel Briand Pâtissier & Chocolatier


Brasília tem uma peculiaridade interessante na sua gastronomia, incorporou a culinária típica de diversas regiões do Brasil e até de outros países. A mais notória é a influência nordestina, que se inicia com a chegada dos pioneiros candangos para a construção de Brasília: carne de sol, feijão de corda, paçoca de carne, manteiga de garrafa,  queijo coalho, pimenta de cheiro e tapioca já são tradicionais no cardápio da cidade. A carne de sol e o queijo coalho são tão comuns que foram incorporados até nas pizzas e nos crepes. Aliás, por falar em crepe, acredito que essa seja talvez a única mania tipicamente brasiliense, não conheço outra cidade onde se come tanto crepe como aqui. As creperias de Brasília fazem tanto sucesso que são destino certo para datas comemorativas e reuniões de amigos. Aqui se come crepe no almoço, no jantar e na sobremesa! Os crepes doces têm uma infinidade de sabores deliciosos e são uma tentação a parte...

Depois vem a influência do Estado de Goiás que,  pela proximidade geográfica, trouxe a guariroba, a pamonha, o empadão goiano, o angu de milho, a galinhada, a leitoa a pururuca e outros pratos regionais para a capital federal. Os goianos acreditam que a culinária goiana é muito parecida com a de Minas Gerais. Realmente, muitos pratos são tradicionais nas duas regiões, mas para um bom mineiro nada se compara ao tempero da sua terra... Mas não estamos totalmente órfãos aqui não, a culinária mineira também está presente no Distrito Federal. Apesar de ainda não ter me convencido com as opções de restaurantes mineiros daqui, tem uns quitutes dignos de nota da Biscoitos Mineiros que irei publicar em ocasião oportuna.

Do Mato Grosso vem a tradição dos peixes de água doce como o pintado, mas aqui também se come peixes paraenses e típicos da região amazônica. Peixes de água salgada, frutos do mar e pratos tradicionais do litoral brasileiro também são muito apreciados na cidade.

Já a culinária internacional, dizem que ganhou espaço na Capital Federal principalmente por força das embaixadas. Para atender a necessidade específica desse seleto público, a cidade foi aos poucos conhecendo, incorporando ingredientes, temperos e pratos típicos de todo o mundo.

Para mim nada mais justo que iniciar a apresentação dessa diversidade brasiliense por um café francês localizado em pleno Planalto Central, o Daniel Briand Pâtissier & Chocolatier. Apesar de não poder me considerar uma frequentadora assídua, tenho um vínculo afetivo com esse lugar. No almoço de confraternização do meu casamento civil estava há apenas um ano em Brasília, recém chegada em um novo trabalho, novo relacionamento e com muitas mudanças acontecendo de uma só vez na minha vida. Não conhecia muita coisa aqui e estava tentando desesperadamente encomendar uns bem-casados para servir aos amigos. Pesquisei pela internet e, na época, não consegui achar nenhum lugar que me fizesse os famigerados bolinhos de casamento. Nessa busca, entretanto, acabei encontrado a Daniel Briand e, após muita conversa ao telefone, decidi encomendar uns tais de macarons de pistache e de framboesa. Não sabia o que era isso, mas tinha certeza que eles cumpririam o seu papel, afinal, também eram constituídos de duas unidades reunidas por um recheio, assim como os tradicionais bem-casados

Depois disso, passei a frequentar o lugar e quando vou sempre peço o macaron de pistache, meu favorito, e o de creme que tem as cores da bandeira da França. Acho que são acompanhamentos perfeitos para um bom café expresso. Um charme a parte são esses descansos para xícaras que usam para servir (ver foto). Fiquei tão apaixonada que procurei em diversas lojas até encontrar na Etna. Comprei de vários tamanhos, tem também uns quadrados para bandejas. Além de valer a pena pelo ambiente agradável, o cardápio do Daniel Briand é muito caprichado,  o preço é justo e você pode fazer qualquer pedido sem medo de ser feliz. Está dada a dica, estando em Brasília vale à pena conferir esse pedacinho de Paris na cidade:
Daniel Briand Pâtissier & Chocolatier
Endereço: 104 Norte, bloco A – loja 26 

domingo, 20 de março de 2011

Mil Folhas de Batata


Na época que morei em Belo Horizonte costumava frequentar, juntamente com amigos muito queridos, o Café 3 Corações, localizado na charmosa Praça da Savassi. O nosso pedido predileto era uma espécie de torta feita com várias camadas bem finas de batata, recheadas com creme de leite e alecrim (não me lembro mais o nome que vinha no cardápio). Mas do gosto não me esqueci até hoje e ainda chego a salivar só de pensar... Há um tempo atrás retornei em BH e verifiquei com pesar que o café havia fechado. Apesar das informações desencontradas da internet, parece que foi reaberto ao lado do endereço original. De qualquer forma quando voltar a capital mineira com mais calma vou me informar sobre esse fato e saber se essa delícia ainda faz parte do cardápio. 

Inspirada nesse prato, que batizei de Mil folhas de Batata, criei novas verões mudando os recheios e o sucesso é sempre garantido. Essa aí foi recheada com creme de cebola e creme de leite e ficou muito saborosa. Recentemente, criei uma versão sem lactose que recheio apenas com azeite, sal grosso e ervas frescas como sálvia ou alecrim e levo ao forno para gratinar levemente e realçar o aroma.  

domingo, 13 de março de 2011

Frango com quiabo


Frango com quiabo é um prato típico da culinária mineira, principalmente se for feito com frango caipira ou na panela de pedra como esse aí servido na Estalagem das Minas Gerais, hotel do SESC em Ouro Preto. O lugar é bem aconchegante e escolhemos ficar hospedados em um chalé de madeira muito charmoso. No piso superior do mezanino ficava o colchão de casal diretamente no chão e um bercinho. No piso inferior um quarto com duas camas de solteiro, um banheiro, uma pequena copa e uma varanda com vista para as montanhas e as hortências. A propriedade do hotel é muito grande, arborizada, florida e também muito bem cuidada. De quebra a natureza ao redor é exuberante e traduz parte da beleza das nossas Minas Gerais. Como não tinha hóspedes nos chalés vizinhos na temporada que passamos lá, desfrutamos do contato com a natureza de forma bem intensa e nos sentimos como se estivéssemos no meio de um bosque. 

A comida caprichada é outro destaque do hotel, principalmente do cardápio a la carte (o buffet deixa um pouco a desejar) e esse frango com quiabo estava realmente delicioso. Nunca soube fazer um bom frango com quiabo mas descobri o segredo desse prato com uma amiga que também faz um divino: tanto o frango quanto o quiabo devem ser fritos separadamente primeiro e somente depois refogados juntos. Eu sempre tentei fazer refogando os dois sem fritar, mas vira um ensopado insosso e babento. Também sei que um dos truques para tirar a baba é jogar o quiabo e umas gotinhas de limão ou vinagre em uma panela bem quente e somente depois refogar com os temperos em outra panela. Minha mãe sempre fez assim e o dela apesar de ser só refogado fica gostoso. Mas não tem jeito, nada se compara a um frango com quiabo que é feito frito.  

Outra surpresa deliciosa foi no café da manhã desse hotel. Uma  garçonete veio até a nossa mesa perguntar se gostaríamos de comer um ovo frito (assim como é oferecido em muitos hotéis) ou uns bolinhos de chuva!!! Pena não ter tirado foto, eles fritam na hora uns bolinhos pequenos, bem menores do que eu costumava comer quando era criança, e trazem quentinho passado no açúcar com canela. Como eu prefiro puro mesmo, na segunda porção já pude desfrutar de mais esse genuino sabor da minha infância.

Quem gostava de fazer bolinho de chuva era minha avó paterna e passávamos a tarde comendo acompanhado de um café bem fresquinho, passado na hora. Aprendi a apreciar um bom café desde a infância, só que naquela época isso era sinônimo de uma bebida pouco incorpada (bem ralinha mesmo) e doce. Entretanto já apreciava o aroma do pó moído na hora, tarefa que aliás disputávamos para fazer, na maquininha da minha avó. Pena que  minha mãe nunca teve apreço pelas coisas como ela diz "velhas" e quando minha avó faleceu eu não tinha dimensão da saudade e da nostalgia que tudo isso ia deixar. Sendo assim, muitas dessas relíquias se perderam da forma mais banal. Consegui salvar a tempo o tacho de cobre, que deve ter bem mais de 50 anos. Sou fascinada por esse ícone da culinária mineira tradicional, que agora corre o risco de ser banido por questões sanitárias. De qualquer forma não vou desfazer do meu não, nem que seja para virar objeto de decoração!

"A alma mineira vive de saudade. Tenho saudade do que já foi, as velhas cozinhas de Minas, com seus fogões de lenha, cascas de laranja secas, penduradas, para acender o fogo, bule de café sobre a chapa, lenha crepitando no fogo, o cheiro bom da fumaça, rostos vermelhos. Minha alma tem saudades dessas cozinhas antigas..."
                                                                                                             A Cozinha - Rubens Alves

Mas voltando ao frango com quiabo, faço também minhas essas palavras de Rubens Alves, extraídas de um trecho da sua autobiografia (http://www.rubemalves.com.br/albumderetratos.htm):

"Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma. Ciência é fogo e panela: coisas indispensáveis na cozinha. Mas poesia é o frango com quiabo, deleite para quem gosta..."

domingo, 6 de março de 2011

Smothie de melancia com framboesa




Sol, calor, verão, carnaval. Nada melhor para refrescar do que se entregar as mil e uma possibilidades da febre do frozen yogurt que pelo visto veio para ficar. Essa mistura deliciosa, refrescante e versátil, que ficou conhecida como sobremesa de baixa caloria,  invadiu os shoppings, as praias, virou mania entre as celebridades e multiplicou-se em milhares de franquias de sucesso.

Perfeito, a não ser por um detalhe para os lactose intolerantes, não é lactose free! O problema é que quando eu decidi levar a sério essa dieta restritiva a lactose já tinha me viciado nesse sorvete de yogurte. Meus sucos prediletos também levavam yogurte. Na base da experimentação descobri que era possível produzir versões bem similares dos sucos com frozen yogurte, substituindo pelo yogurte normal e pela fruta congelada no lugar da fruta in natura. O segredo é nunca utilizar polpas de frutas diluidas em água e sim a fruta integral congelada. Algumas como morango, framboesa, amora e blue berry eu compro a  fruta já congelada. Outras como manga, banana, mamão eu mesmo preparo e congelo a fruta picada.

O smothie de melancia com framboesa e yogurte natural de hoje foi inspirado no Pabi Australiano da Pabi, casa de sucos tradicionais de Goiânia. Eu me apaixonei pelo combinação e fui experimentando em casa até obter sabor parecido. Atualmente retiro a porção de yogurte natural da receita ou substituo por um inhame pequeno e garanto que esse ainda continua sendo o meu suco predileto.