Açafrão fresco e almofada pode soar estranho mas para mim faz todo sentido, ainda mais considerando que fui apresentada ao profundo significado desses dois itens aparentemente tão dissociados nesse fim de semana. Já explico.
1 ato - açafrão fresco: fui ao CEASA esse final de semana comprar frutas e entrei no Mercado Orgânico com o firme propósito de comprar apenas dois litros de leite para o meu amor, afinal é tão saudável e ele adora. Ou melhor, eu, imbuída de todas as minhas privações lácteas, faço questão absoluta que ele tome pelo menos uma xícara de leite (orgânico) por dia. Fui direto a geladeira sem praticamente olhar para os lados, para não cair em tentação. Mas caí assim mesmo. Vi um saquinho pequeno do lado das pimentas com algo que imediatamente chamou a minha atenção. De início pensei: nossa como estão feias as cenouras essa semana e logo depois pensei que fossem gengibre.
Resolvi ler o rótulo vi que estava escrito açafrão. Fui tomada de uma emoção súbita e segurei o saquinho na mão por alguns segundos até ser resgatada pela minha razão toda poderosa e deixá-lo novamente no lugar que encontrei. Logo em seguida me dirigi ao caixa toda segura de mim repetindo internamente a palavra venci. Enquanto aguardava no caixa não resisti e voltei correndo ao local onde tinha deixado o açafrão fresco e peguei o saquinho rapidamente de volta dessa vez segurando-o bem firme. Olhei para o meu marido e disse eu não queria levar mas que não ia me privar dessa experiência. Era a primeira vez na vida que via um açafrão fresco e não ia reprimir essa vontade de levar para casa e fazer um arroz bem caprichado. Ele olhou para mim e disse : Leva sim isso faz parte das "pequenas alegrias da Mimi", frase entre aspas que ele habituou falar quando me vê genuinamente feliz com alguma coisa muito simples.
Cabe, contudo, explicar a razão de tanto drama. Quando me mudei para o meu primeiro apê próprio a parte que mais caprichei foi a cozinha e no ano que morei lá cozinhei praticamente todos os finais de semana. Sabia que estava feliz mas comecei a me incomodar com o fato de não estar sobrando tempo para outras coisas. Agora na entrega do segundo apê tivemos que nos mudar para uma kitnete provisoriamente até a sua entrega. Deixei a maioria das minhas engenhocas de cozinha encaixotadas devido a falta de espaço. E detalhe, na Kit só tem um frigobar e um fogãozinho de duas bocas elétrico. Decidimos "sobreviver" a isso com uma tacada de mestre. Aproveitaríamos esse período como casais de namorado nos jogando na balada ao invés de perdermos o final de semana no fogão. Conclusão: nem bem ao céu nem bem a terra, e percebi que vou ter que arrumar uma forma de equilibrar tudo isso. Assim resolvi quebrar o jejum da cozinha encarando esse desafio, foi como cozinhar em um acampamento e, além disso, ganhei várias novas manchas nos utensílios que trouxe e em minhas mãos. Quem já cozinhou com açafrão em pó sabe que o danado tinge tudo o que encontra pela frente, o açafrão fresco não é diferente. Mas fiquei tão empolgada que nem quis pesquisar nada e fui logo pondo a mão na massa. Lavei o açafrão, ralei em um ralo pequeno, joguei em uma panela com óleo bem quente e deixei fritar rapidamente, imediatamente um aroma delicioso tomou conta das minhas narinas. Depois joguei o arroz e refoguei na mesma panela adicionando o alho com sal. Refoguei tudo até o arroz estar bem torrado, acrescentei água e deixei cozinhar. Não precisa nem dizer que ficou maravilhoso, gosto de comida de roça, de comida de fogão a lenha e de comida de vó, sem nenhuma modéstia.
2 ato - almofadas: sempre gostei de entrar em uma livraria nas horas vagas e descobrir alguns títulos que ninguém havia me indicado antes. No sábado a noite após o episódio da compra do açafrão fui a livraria Cultura e fiz uma descoberta um pouco menos exploratória já que o livro estava bem em destaque na entrada da loja. Aliás, vários livros da Martha Medeiros que eu ainda não conhecia (conheci-a em uma entrevista que me despertou bastante interesse e depois através do filme Divã). Chamou-me atenção o livro "Feliz por Nada" já que está na sua nona edição. Comecei a folhear o livro em pé até ver que iria devorá-lo todo ali mesmo e resolvi encontrar um local mais confortável para finalizar a leitura. E é justamente aí que entra a almofada. Lendo o livro adorei a Crônica "Eu não preciso de almofada" onde ela faz uma narrativa super bem humorada quando "um defensor da linha franciscana de morar" disse essa frase para ela e quando ela olhou para o lado disfarçadamente estavam cercados por cerca de 25 almofadas indianas, nordestinas, uruguaias, enfim, de todos os tamanhos, cores e origens. Segundo ela é o que dispara o seu lado consumista. Mas ela declara que claro ela também não precisa de almofadas, assim como não precisa de flores, não precisa de tapetes e o fato da casa dela parecer uma loja turca "é só para evitar o desconforto dos que andam descalço". E assim ela prossegue na analogia dizendo que ela não precisa de várias de suas "pequenas alegrias" até finalizar dizendo que então ela não precisa de cor, de beleza, não precisa de sonho, não precisa de arte, não precisa de criatividade, não precisa de diversão, não precisa de prazer [...]
A moral da história para mim é que as vezes em nome de um desapego forçado e totalmente sem legitimidade podemos deixar de viver nossas "pequenas alegrias" sendo que no fundo são elas que alimentam boa parte de nossa alma, já que nada mais são do que a expressão do que somos. A propósito também não abro mão de alguns mimos como as almofadas da foto feitas de 100 mini fuxicos, sendo cada um deles coberto por um mini botão de tecidos de diversas estampas ao mesmo tempo muito coloridas e muito delicadas. Então porque não assumir de vez que nesse momento eu preciso sim de açafrão fresco e almofada para ser mais feliz? Quem sabe um dia no futuro eu esteja bem mais evoluída e me desapegue de todas essas bobagens mundanas e viva somente de prana, luz e amor?
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